Santuário Ecológico Itapecericano nas chamas da ganância imobiliária

Itapecerica da Serra está sob forte ataque. São desmatamentos, despejos de entulho e queimadas intensas, que estão deixando a população alarmada.
Somente na última semana foram registados pelo menos sete grandes focos de queimadas em áreas verdes e remanescentes de Mata Atlântica. São incêndios criminosos, que sempre culminaram nesta época de seca, mas que neste ano estão tomando proporções nunca vistas na cidade.

Mas quem está por traz disso?

Desde o início do ano passado, o Movimento Ambientalista Preservar Itapecerica da Serra vem recebendo inúmeras denúncias de desmatamentos para loteamentos ilegais.
De acordo com as informações recebidas, diferentemente das críticas feitas aos movimentos sociais, essas não são ações de movimentos de moradia, mas de aparente crime organizado. Há indícios que o crime ganha hoje mais dinheiro com venda de lotes do que com venda de drogas. O modus operandi é o mesmo utilizado na Zona Sul de São Paulo, que ocorreu no entorno da Represa Billings e na Serra da Cantareira, Zona Norte.
Esses desmatamentos que levaram à grande crise hídrica na Grande São Paulo em 2014.
Agora Itapecerica da Serra parece ser a bola da vez. Áreas remanescentes de Mata Atlântica são griladas, compradas a preços irrisórios, queimadas, desmatadas e loteadas, com a aparente conivência do governo Municipal. São constantes as presenças de servidores públicos nestes locais e foram flagrados funcionários e retroescavadeiras abrindo ruas dentro dos terrenos dos loteamentos. A fiscalização municipal é praticamente zero.
Em 04/08 último, o Preservar Itapecerica esteve em reunião com o Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado, Sr. Marcos Penido, juntamente com ambientalistas da SOS Mata Atlântica e do movimento Abraço Guarapiranga, na qual foram colocadas as questões sobre a Fiscalização Integrada e aplicação das Leis Ambientais na Região.
Representando o Preservar, Adriana Abelhão, levantou as questões dos desmatamentos e queimadas para loteamentos do possível crime organizado, ressaltando a entrega de documento detalhado sobre a situação, com 1.200 assinaturas, e ressaltou: sem mata, sem água.
A continuar assim em Itapecerica e região, uma nova e grave crise hídrica virá em toda Grande São Paulo. O Secretário sensibilizou-se, prontificou-se a movimentar o Departamento de Fiscalização e o Jurídico e a região aguarda suas ações.

Queimando esperanças

Desde sábado, dia 08/08, foram registrados pelo menos cinco grandes focos de queimadas nas Matas, nos bairros Branca Flor, Jacira, São Marcos, Yara Cecy e Itaquaciara.
O pior caso foi em Itaquaciara, um local de ocorrência do Veado Catingueiro, Bicho-Preguiça e vários outros animais silvestres. Bombeiros foram chamados e também a GCM, mas infelizmente o estrago foi grande. A existência desses animais indica que há mata preservada que os alimenta, e muita biodiversidade. Itapecerica da Serra está matando sua “galinha dos ovos de ouro”, sua verdadeira riqueza.
“Somos uma cidade 100% Mananciais e devemos nos orgulhar disso. O que vemos nas redes sociais são pessoas denegrindo a imagem da cidade, dizendo que sermos área de mananciais impede a vinda de indústrias, impedindo o desenvolvimento, o que é um erro gravíssimo. Nosso verdadeiro caminho para o desenvolvimento e bem estar é preservar nossas Matas e Mananciais. Em primeiro lugar, Itapecerica da Serra gera 20% de toda a água utilizada no abastecimento do Sistema Guarapiranga e temos que exigir o repasse das compensações ambientais determinadas por Lei Estadual”, esclarece Adriana. “Além disso, temos que exigir que as concessionárias de serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos, sejam elas públicas ou privadas, como permite agora o Novo Marco Regulatório, cumpram as cláusulas contratuais, principalmente quanto às metas de saneamento, o que vem sendo descaradamente desrespeitado pela Sabesp”, conclui ela. Itapecerica da Serra tem por volta de 29% de áreas preservadas de Mata Atlântica. Muitas cidades do mundo queriam ter essa riqueza e biodiversidade.
Esse é um sonho de cidade que está em risco. “Ou defendemos nossas matas e mananciais ou seremos mais uma cidade cinza, sujeita a enchentes, extremamente quente, sem dignidade para sua população, mais uma vez explorada, cercada de pobreza e criminalidade” sentencia Adriana.
A escolha é nossa: preservação ou morte.

* Adriana Abelhão é Presidente do Movimento Ambiental Preservar Itapecerica da Serra.

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