Vereadores aliados de Ney Santos cassa vereador Abidan por denúncias contra a show em Embu

O vereador Abidan Henrique da Silva, de 26 anos, do PSB de Embu, São Paulo, conhecido por sua luta contra desigualdades sociais e pela promoção da educação inclusiva, teve seu mandato cassado após enfrentar um processo de quebra de decoro parlamentar. O caso, que foi votado na última quarta-feira (28/02), não envolve acusações de improbidade administrativa, assédio moral, sexual, injúria ou violência.

Dono de uma bela história de superação pessoal baseada no enfrentamento da desigualdade social e da falta de oportunidades — e também no ativismo por uma educação inclusiva no país — Abidan atuava como um guerreiro solitário no Legislativo que integrava.

O motivo alegado para o processo é o fato de, em outubro passado, ao denunciar a postura de colegas (todos, vereadores da base do governo) de esvaziar a sessão da Câmara Municipal para não debater a transferência de R$ 2 milhões da área de Saúde de Embu para a Secretaria de Cultura — o que teve como objetivo pagar os artistas do Embu Country Fest — ele teria se excedido. Na ocasião, utilizou-se de metáfora para dizer que os vereadores “fugiram como ratos”.

A briga de Abidan com o prefeito Ney Santos (Republicanos) e seu grupo de apoio é antiga em Embu e já teve muitos capítulos. A sessão que apreciou o pedido de cassação do seu mandato pelos colegas foi avaliada por admiradores do vereador e integrantes do seu partido como perseguição política. Abidan já chegou até a receber ameaças e foi perseguido por um veículo, no final do ano passado, quando registrou um boletim de ocorrência na polícia.

 

Ao pé da letra

 

Além de ser considerado “a única voz de oposição de Embu”, Abidan Henrique é elogiado por muitos políticos, moradores da cidade, eleitores e especialistas em ciência política como um vereador que cumpre ao pé da letra os compromissos que o cargo exige: fiscalizar e acompanhar as ações do Executivo, sobretudo em áreas como educação, saúde e segurança pública.

Ele é candidato à reeleição este ano e tem incomodado muitos adversários a divulgação de uma pesquisa eleitoral que constatou que, se o pleito de 2024 fosse realizado neste primeiro semestre, certamente despontaria como o vereador mais votado.

A mais recente vitória ao longo da batalha que trava pela boa aplicação de verbas para o município aconteceu quando, por meio de uma ação civil pública, conseguiu cancelar na Justiça um show do cantor Léo Santana, promovido pela prefeitura. Posteriormente, o prefeito conseguiu reverter a decisão e a apresentação custou R$ 3 milhões aos cofres públicos, recursos que Abidan acredita que deveriam ter ido para áreas prioritárias de Embu.

Este cenário tem se tornado recorrente no município, onde o prefeito opta por pagar cachês milionários a artistas, ao mesmo tempo em que destinou zero reais para o combate às enchentes, mesmo com o estado de calamidade decretado pela própria prefeitura devido às chuvas. Como resultado dessa negligência, Pablo Oliveira dos Santos, de 13 anos, faleceu recentemente após ser sugado por um bueiro durante uma enxurrada na Rua Alemanha.

Além disso, destaca-se a greve no transporte público devido à falta de pagamento aos funcionários, um evento que ocorreu logo após os gastos com o show do Léo Santana. Outras problemáticas incluem o atraso no pagamento de 100 médicos do pronto-socorro e da UPA, atraso nos salários dos monitores de Cultura, ruas esburacadas e o atraso no pagamento da Lei Paulo Gustavo.

Vale ressaltar que o vereador já havia feito denúncias em anos anteriores sobre uso irregular de recursos por parte da prefeitura destinados ao financiamento de shows de outros artistas famosos na cidade, como Wesley Safadão, Leonardo e Jorge Matheus.

 

Inclusão e mudança

 

Abidan é um dos responsáveis pela criação, em 2018, do curso pré-vestibular Km23, ao lado dos amigos Caio Braga e Guilherme Anjo, que oferece aulas gratuitas para estudantes de Embu e municípios vizinhos. O curso consiste numa ação afirmativa de acesso ao ensino superior para alunos de baixa renda, sobretudo jovens pretos, pretas e periféricos.

O Km 23 foi criado a partir de parceria do trio com a Sociedade Ecológica Amigos do Embu (SEAE). Atende alunos de forma presencial e realiza mentorias, aconselhamento e monitorias online sobre o mercado de trabalho e vivência universitária, com impacto sobre cerca de 150 estudantes.

O vereador costuma declarar que “pela educação, é possível alcançar a igualdade de oportunidades”. “A Lei de Diretrizes e Bases contempla que o ensino precisa se guiar pela igualdade, pluralismo e consideração com a diversidade étnico racial”, enfatiza.

Antes de inspirar alunos das periferias, ele também motivou seus próprios pais a mudar de vida. A mãe, Cleide Aparecida de Oliveira, que foi empregada doméstica por 12 anos, hoje é professora. O pai, que foi marceneiro por décadas, seguiu o exemplo do filho e se formou em engenharia. Os três — pai, mãe e filho — fizeram juntos a prova do Enem, em 2014.

É nesse contexto que a cassação do vereador Abidan Henrique da Silva marca o triste desfecho de suantrajetória na defesa incansável da boa aplicação dos recursos públicos e na promoção de mudanças positivas em Embu. Sua batalha na Câmara, centrada na fiscalização e acompanhamento das ações do Executivo, reflete sua postura combativa no cenário político local, e apesar do vazio deixado na representação política, sua história de superação, compromisso com a educação e defesa dos interesses da comunidade persistirá em ecoar em Embu, assim como os apelos da população pela restauração de seu mandato.

*por: Jorge Higor

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