Desmatamento deixa terra arrasada em Itapecerica da Serra

Itapecerica registrou desmatamento de quase 400 mil metros quadrados em 2021, mas a área pode ser ainda maior

 

Itapecerica da Serra bateu recorde de desmatamentos em áreas de Mata Atlântica em 2021. Foram 387 mil m² de mata nativa destruídos. As perdas já sentidas pela população foram confirmadas pelas informações de satélite do recém lançado SAD – Sistema de Alerta de Desmatamentos Mata Atlântica, elaborado com dados do MapBiomas, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica e INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Para se ter uma ideia desta destruição, Itapecerica bateu os desmatamentos até mesmo da grande Metrópole São Paulo, que perdeu 278 mil m². Os números das demais cidades do Sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo são também alarmantes, mas Itapecerica ainda está acima de todas elas.

No mapa estão destacadas claramente as áreas desmatadas para loteamentos irregulares dos bairros Crispim, Santa Júlia, Horizonte Azul, Branca Flor e Mombaça em Itapecerica, ou seja, crimes ambientais amplamente denunciados que não foram coibidos nem pelos órgãos estaduais nem pela Prefeitura.

Segundo o levantamento, em segundo lugar ficou o desmatamento em Cotia, com 285 mil m², seguida por Embu das Artes que perdeu 143 mil m² e Embu-Guaçu com 29 mil m². São Lourenço da Serra perdeu 78 mil m² e Juquitiba, 13 mil m². Somando-se todas essas cidades, temos um total de 935 mil m² de Mata Atlântica devastada, ou seja 20,6% de todo o desmatamento que ocorreu no Estado de São Paulo, que totalizou 4,5 milhões de m² no período.

São dados aterradores, levando-se em conta as perdas irreversíveis para nossos mananciais, fauna, flora e biodiversidade. Mas os dados podem ser ainda maiores. De acordo com a metodologia de dados de satélite utilizados, não são consideradas áreas menores que 3 mil m², perdendo-se então o que os técnicos chamam de “efeito formiguinha do desmatamento”, ou seja, os pequenos desmatamentos descontínuos que atingem nossas cidades mananciais, para construção de moradias, que são muitos. Com o recrudescimento da pandemia da Covid-19, a partir de 2020, e dos altos níveis de desemprego decorrentes da política desastrosa do governo federal, faltou dinheiro para o aluguel e sem ações efetivas para garantir renda a essas populações, trabalhadores e trabalhadoras foram expulsos para áreas de encostas e mananciais da Grande São Paulo, em ocupações irregulares, o que aumentou significativamente o desmatamento e grande parte destas áreas não entraram na conta por serem áreas menores que 3 mil m².

Os dados de satélite mostram dos céus o que os olhares atentos e desesperados da população veem em Itapecerica da Serra e região, dia-a-dia. São relatos de derrubada de árvores centenárias, muitas delas vulneráveis e em vias de extinção, de aterros de nascentes e córregos, de cavadeiras e caminhões movimentando terra por toda cidade, chapas de metal cercando terrenos para esconder ações criminosas de loteamentos clandestinos e morte de animais silvestres. Para Luís Fernando Guedes Pinto, Diretor de Conhecimento e Coordenador do SAD e do Atlas da Mata Atlântica: “É inaceitável desmatamento nesta região, para qualquer área, para qualquer árvore, levando-se em conta a importância da preservação para a segurança hídrica e climática. Os poderes públicos fiscalizadores tem que agir e não o fazem”, completa ele.

 

Gato-do-mato pequeno mais uma vítima

Diante de tanta destruição, não por acaso foi encontrado o corpo de um gato-do-mato pequeno, mamífero de pequeno porte, semelhante à jaguatirica, na Avenida Eduardo Roberto Daher, centro de Itapecerica da Serra. Segundo o ICMBio, a espécie está ameaçada de extinção em nosso país. O animal foi encontrado sem vida, na sarjeta da avenida. Foto registrada por munícipe mostra lindas flores de Paineira Rosa sobre o corpo inerte do animalzinho, como um afago da Natureza, que clama por socorro.

A destruição segue, com a omissão dos governos estadual e municipais que não fiscalizam, não autuam, não coíbem esses crimes, apesar das centenas de denúncias de moradores e moradoras indignados. Diante desta marca recorde de desmatamento, de quase 400 mil m² no município em 2021, primeiro ano da administração do atual prefeito de Itapecerica da Serra, Francisco Tadao Nakano, o mesmo vai certamente entrar para a história da cidade como o rei da cavadeira e da motosserra.

5 comentários em “Desmatamento deixa terra arrasada em Itapecerica da Serra

  • 03/04/2022 em 17:03
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    Itapecerica e vizinhas com mais de 20% do desmatamento no estado de SP!
    Absurdo.
    O que podemos fazer?

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  • 04/04/2022 em 08:04
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    Se os cidadãos de um território não se apropriarem do mesmo e valorizarem para defender seus atributos de vida em comum, dificilmente terão uma solução mágica. Area de saúde, cada escola mostrem onde vivem. Que fatura com destruições e guerras?

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  • 04/04/2022 em 13:04
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    Muito triste! É visível por terra este desmatamento. Temos que continuar cobrando dos órgãos responsáveis e claro, fazer nossa parte, preservar e cuidar.

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  • 06/04/2022 em 18:38
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    Não há dinheiro que pague o abastecimento de água em São Paulo, este absurdo deve ser barrado por todos. Até por quem reside em SP. Não basta a crise recente com uso do volume morto de água e contaminação por cadmio . Não há justificativa para este crime contra a população, fauna e flora.

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  • 29/04/2022 em 17:02
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    E vai haver mais no centro de Itapecerica da Serra (Rua 13 Maio) porque vão derrubar as árvores da antiga Granja Tupi, em frente a delegacia, para construir no centro da cidade um empreendimento de 10 prédios de 10 andares. Um perigo a fauna e flora local. Além disso, o trânsito local que já é terrível, ficará um caos. Mobilidade 0. Isso não é desenvolvimento é desmatamento.

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