DestaqueHistórias Afro-BrasileirasNotícias

Margarida Alves: a paraibana que enfrentou donos de terra e deixou um dos maiores legados de luta pela Reforma Agrária

Nascida em 5 de março de 1932, filha de camponeses e descendente de indígenas (por parte do pai Manuel Lourenço Alves) e de negros (por parte da mãe Inácia Alexandrina Conceição), Margarida teve a própria vida – e dos seus – sob ameaça permanente, vindo a ser assassinada aos 51, 5 meses e 7 dias de vida em 12 de agosto 1983.

 

Margarida Maria Alves foi uma trabalhadora rural e sindicalista paraibana defensora dos Direitos Humanos e Trabalhistas dos trabalhadores do campo. Foi uma das primeiras mulheres a exercer um cargo de direção sindical no país. Seu nome e sua história de luta inspiraram a Marcha das Margaridas, que foi criada em 2000.

Foi durante o Regime Militar do general Emílio Garrastazu Médici, que se formalizou a criação  do sindicato dos  trabalhadores rurais de alagoa grande. Nesse período, margarida conheceu Severino Casemiro Alves, com quem se casou em 26 de novembro de 1971,conforme a certidão de casamento nº3.834,celebrado pelo juiz Dr. Amaury Ribeiro de Barros (segundo dados contidos na copia da certidão de casamento fornecido á  nossa pesquisa por José Arimatéia Alves, filho único do casal

Durante o período em que esteve à frente do Sindicato local de sua cidade, foi responsável por mais de cem ações trabalhistas na justiça do trabalho regional, tendo sido a primeira mulher a lutar pelos Direitos Trabalhistas no estado da Paraíba durante a ditadura militar.

Postumamente, recebeu o Prêmio Pax Christi Internacional em 1988. Todos os anos, na semana que antecede o dia 12 de agosto, na cidade de Alagoa Grande, a população traz à tona a memória da sindicalista, que foi a precursora feminina na Paraíba na defesa dos direitos de trabalhadoras e trabalhadores do campo

 

Militância

 

Margarida Maria Alves era filha mais nova de uma família de nove irmãos e viveu no Sitio Jacu, zona rural de Alagoa Grande até os 22 anos de idade. Porém, ao serem expulsos da terra por grandes latifundiários, a família de Margarida teve que ir morar na periferia de Alagoa Grande . Sendo assim, ela carregava a questão das terras desde cedo. Margarida nunca conseguiu estudar, foi completar a quarta série do Ensino Fundamental mais velha do que a média de escolaridade comum.

Tornou-se Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, em 1973, aos 40 anos. Foi uma das primeiras mulheres a assumir um cargo de direção sindical no Brasil e uma grande ativista pelos Direitos humanos e trabalhistas no país. A militante esteve à frente na luta pelos direitos básicos dos trabalhadores rurais em Alagoa Grande, como carteira de trabalho assinada, 13º saláriojornada de trabalho de oito horas diárias, férias e licença maternidade. Também lutava para que os trabalhadores pudessem cultivar suas próprias terras e pelo direito do fim do trabalho infantil nas lavouras e canaviais, para que essas crianças pudessem estudar. Durante sua gestão sindical, criou um programa de alfabetização de adultos, inspirado na pedagogia de Paulo Freire, voltado aos trabalhadores. Também foi a responsável por mover mais de 100 ações na Justiça do Trabalho de Alagoa Grande, enfrentanto os interesses de grandes proprietários de terras e usineiros de açúcar – particularmente, os donos da Usina Tanques. No ano de sua morte, em 1983, tramitavam cerca de 72 ações na Justiça do trabalho local, segundo dados do Ministério Público.

Margarida é um dos maiores nomes da luta sindical no Brasil. Foi no seu discurso no Dia do Trabalho, celebrado no dia 1º de maio de 1983, que ela pronunciou uma das suas frases mais famosas: “Da luta eu não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome”. Três meses depois, Margarida seria assassinada na porta de sua casa. Mas, ao contrário do que poderiam supor seus assassinos, sua morte deu maior força de mobilização às organizações de trabalhadores rurais de todo o Brasil e resultou na criação da Marcha das Margaridas, um evento anual de grande visibilidade, sendo, possivelmente, a mais notável expressão da luta por direitos das trabalhadoras brasileiras.

“prefiro morrer na luta do que morrer na fome’’

 

“E vocês fiquem certos de que não fugimos da luta. É mais fácil saber que tombamos do que dizer que nós corremos”. Eram estas as constantes palavras de Margarida em seus discursos. Em repúdio à proibição da entrada nas propriedades rurais, Margarida deixava claro que quem estava invadindo os direitos dos trabalhadores, ao não pagar o 13º salário, eram os proprietários. A luta era por aquilo que pertencia aos trabalhadores, direitos trabalhistas, “porque entendo que é melhor morrer na luta do que morrer de fome”.

Margarida Maria Alves foi assassinada no dia 12 de agosto de 1983, na época com 50 anos, com um tiro de espingarda calibre 12, no rosto, na frente de sua casa, em Alagoa Grande, Paraíba (PB). A militante já vinha recebendo uma série de ameaças de morte por telefonemas e cartas, mas, foi naquela tarde de agosto que Margarida foi alvejada no rosto ao atender a porta – enquanto seu marido a acompanhava e seu filho de 8 anos brincava na calçada – que as ameaças realmente se concretizaram. Margarida atendeu a porta e o homem perguntou “é a Dona Margarida?”, e ela respondeu “sou”, segundos antes de levar o tiro. Grandes fazendeiros da região haviam contratado um assassino de aluguel – segundo dados no Ministério Público, no ano de 1983, Margarida estava movendo cerca de 72 processos na Justiça do Trabalho contra fazendeiros e usineiros.

O crime teve grande repercussão nacional e internacional, chegou a ser denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Dois anos depois de sua morte, o Ministério Público denunciou três pessoas que poderiam estar associadas ao crime: Antônio Carlos Regis, visto como um ponto focal dos fazendeiros da região e os irmãos Amauri e Amaro José do Rego, que teriam sido, de fato, os executores. Em 1988, três anos após a denúncia realizada pelo Ministério Público, Antônio Carlos Regis foi absolvido por falta de provas. Em 1995, o Ministério Público realizou uma nova acusação de outros fazendeiros como mandantes do assassinato: Aguinaldo Veloso Borges, Zito Buarque, Betâneo Carneiro e Edgar Paes de Araújo. Apenas Zito Araújo passou pelo processo, ficou preso durante três meses e, em 2001, foi absolvido. O crime político nunca foi resolvido.

A casa simples em que ela morava foi comprada pela Prefeitura Municipal de Alagoa Grande e virou museu em 26 de agosto de 2001. Na fachada do local está escrito sua frase mais famosa, que virou símbolo da luta sindical no Brasil: “Da luta não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome.”  Abaixo de uma das janelas da residência tem uma placa escrito “Aqui foi assassinada em 12-08-1983 a líder sindical Margarida Maria Alves”. Dentro do imóvel, em letras garrafais na cor preta, está escrito “Da luta eu não fujo”.

Desde 2012, o dia 12 de agosto foi instituído pela Lei nº 12.641, como Dia Nacional dos Direitos Humanos, em referência à data do assassinato de Margarida Alves.

 

Marcha das Margaridas

 

A luta e as ações de Margarida Maria Alves inspiraram a Marcha das Margaridas, manifestação realizada por mulheres trabalhadoras rurais brasileiros desde 2000, que integra a agenda permanente do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR). O movimento propõe visibilidade, reconhecimento social e político e cidadania plena a essas profissionais do cenário rural. Organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), ocorre no dia 12 de agosto (ou em datas próximas) para lembrar a morte de Margarida.

Pautas com reivindicações específicas das mulheres e questões de interesse geral da categoria de trabalhadoras rurais fazem parte do cenário da manifestação. A mobilização, com denúncias e pressão, mas, também, diálogo e negociação política com o governo federal, tem ganhado grande reconhecimento como a maior e mais efetiva ação das mulheres da América Latina.

Neste ano de 2023 a VII marcha das margaridas reuniu mais de Cem mil mulheres do Brasil inteiro.

 

Reparos históricos

 

De acordo com a certidão de casamento encaminhado a nos por José  Arimatéia  Alves, dois erros históricos deverão ser corrigidos.

O primeiro é quanto a data correta do nascimento de Margarida Alves em 3/3/1932 e não, como consta na maioria esmagadora dos sites de pesquisa que dizem ser  5/8/1933.

O segundo erro é em relação ao nome de sua mãe que é Inácia Alexandrina de conceição e não como costa nas pesquisa de internet que dizem ser Alexandrina Inácia da conceição e a titulo de curiosidade, apesar de seu pai  ter o sobrenome Alves, o sobrenome de batismo era Conceição somente após o casamento passou a assinar Margarida Maria Alves.

Agradecemos a colaboração especial de Jose Arimatéia na elaboração dessa pesquisa

“José de Arimateia é filho único de Margarida e tinha 8 anos quando a mãe foi morta  Ele chegou a vê-la ensanguentada, após o disparo. Estava brincando na rua da nossa casa, quando ouvi o estampido do tiro. Corri para casa, quando me deparei com o seu corpo totalmente ensanguentado”

Após o período no Rio de Janeiro, onde viveu por alguns anos, ele retornou à Paraíba. Atualmente, vive em João Pessoa com a esposa e quatro filhos. Saudável e sem vícios, José busca levar adiante o legado da mãe.

Depois dos créditos : abaixo reproduzimos a certidão de casamento de Margarida Maria Alves para consulta de curiosos, pesquisadores e historiadores essa grande líder sindicalista.

 

 

*pesquisa: Jose Lucas (Folha do Pirajuçara)

*fonte: https://pt.wikipedia.org

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *