SOS Natureza: Desmatamentos crescem 400% em áreas de Mata Atlântica no Estado de São Paulo

O desmatamento da Mata Atlântica no Estado de São Paulo cresceu 400% entre 2019 e 2020. Os dados fazem parte do Atlas da Mata Atlântica, divulgado às vésperas do dia 27 de maio, dia em que se festeja esse bioma, mas não há a nada comemorar. O Atlas é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe. O índice é alto, mas essa perda pode ser ainda maior, pois para efeito de pesquisa foram analisadas áreas acima de 3 hectares. Os dois últimos anos não foram, portanto, períodos somente de perda de Floresta Amazônica, que em 2020 bateu recorde de desmatamento, perdendo 11.088 quilômetros quadrados de área. A Mata Atlântica foi duramente devastada mais uma vez. Os dados do Atlas por cidades apontam perdas significativas neste mesmo período para nossa região. Embu das Artes, Itapecerica da Serra e Cotia, cidades atacadas pelos desmatamentos para loteamentos ilegais, perderam áreas verdes a olhos vistos, com aumento de desmatamento em Cotia de 21% e de Embu das Artes de 16%. Os dados de Itapecerica da Serra ainda não foram atualizados, mas giram em torno das médias dessas duas cidades. Mas esses não são somente números. Por trás deles está o ranger estridente das motosserras, o bater forte e surdo de árvores no solo e a destruição de nascentes. São também pássaros e seus ninhos nas árvores, pequenos roedores, mamíferos, repteis e insetos dizimados no bioma de maior diversidade do Planeta. Por detrás desses números está a omissão dos poderes públicos, o desrespeito às leis, à Lei da Mata Atlântica, que levou 14 anos para ser aprovada, uma grande luta de vários movimentos ambientalistas, lei que defende especificamente esse bioma e que beneficia agricultores que preservam, assim como protege áreas ocupadas por comunidades tradicionais. Por detrás desses números está a omissão em cuidar do povo, em privilegiar a especulação imobiliária em detrimento de programas de habitações populares, o que empurra as comunidades pobres para as áreas de mata e mananciais. Está a omissão ao não se instaurar a Fiscalização Integrada e o Sistema Geral de Informações, atrasado 13 anos em nossas cidades, abrindo caminho para os loteamentos ilegais do crime organizado, embora contabilizemos R$ 17 milhões dos cofres estaduais para esse fim. Está por trás desses números todo o retrocesso ambiental do governo Bolsonaro, que entre tantos, reduziu o número de fiscais do Ibama quase que pela metade e tenta desmontar as regras de licenciamento ambiental.

A Mata Atlântica hoje existente no País representa menos de 8% do seu total original, o que mostra a vulnerabilidade deste bioma. Apesar de existirem perdas irreversíveis, dizem os biólogos que a Mata Atlântica tem um grande poder de regeneração, diferentemente da Amazônia, por exemplo, que foi constituída sob solo pobre e arenoso, que por milhares de anos foi fundo de oceano, e exige um reflorestamento custoso e demorado. As áreas de Mata Atlântica tem a seu favor um solo mais generoso e com o replantio de espécies específicas deste bioma, atraem aves, insetos e mamíferos, que contribuem para a dispersão de sementes, polinização e reconstituição da mata em algumas décadas. Então, com vontade política, pressão da sociedade para punir crimes ambientais e com mãos e sementes para plantar, é possível reverter esse quadro. Neste Dia da Mata Atlântica, não temos nada a comemorar, mas muito pela frente para lutar.

 

*por: Adriana Abelhão

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