Editorial 771 “Negro” ou “Preto”

 

Qual a palavra correta para se referir aos afrodescentes? Para o músico e ativista ganês radicado no Brasil Nabby Clifford, “preto” é o único termo aceitável. Ele sugere: “Já que o mundo mudou, vamos mudar nossa linguagem também”, diz Clifford, em um vídeo que causou repercussão e está com quase dez milhões de visualizações em uma rede social. E você, o que acha?

Mariene de Castro, cantora e atriz: “Eu sou preta, negra, nega, neguinha, pretinha, mulata, cabocla, criola… Mas de verdade, no meu registro, consta que sou parda. Isso é cor? Quando ouço essa nomenclatura, minha alma afrodescendente arrepia. Sou toda a mestiçagem do meu povo que se misturou e assim surgiu; alguém com traços de índio, negro e de rebarba, português. Mas como não? Se assim foi o jeito que tudo se sucedeu. Não me ofendo com nomenclatura, me ofendo com o desrespeito, alheio, com todo e qualquer tipo de racismo e preconceito. Minha mãe de criação é albina; pele clarinha, olhos claros, cabelo esbranquiçado. Quem há de dizer que ela não é negra? E ela com pele clara já foi tão atacada e ofendida por ser assim. Nascida pelas mãos do criador, assim como eu, como você.”
Nathalia Santos, youtuber e blogueira: “Essas diferenças são irrelevantes para quem enxerga com o coração. No meu caso, sou negra, e enxergo tudo preto. É no preto que me acho! Socialmente quando ganho na loteria: a nota é preta; mas se tenho fome: ela ainda é negra. Vai entender! A gente precisa mesmo é readequar o sentido da palavra, aprendendo a respeitar as diferenças. Entre pretos e negros, ainda somos seres-humanos.”
MC Marcinho, cantor de funk: “Preto é cor, negro é raça; mas tudo varia da intenção em que é dita. Nós do Funk já somos rotulados por diversos ‘pré-conceitos’. Não importa a denominação, precisamos mesmo é de respeito. Eu exijo respeito, sempre.”
Maurício Poeta , vocalista do grupo Puro Acaso: “Pra mim, negro é mais adequado, quando se refere a raça, mas preto não esta errado uma vez que a raça ‘supostamente oposta’ é branca. Não é o termo que ofende; é a maneira como é empregado. Com respeito, negro ou preto não faz diferença. Eu sou um pretinho tipo A!”
Modou , estudante de Geografia: “O correto é negro. Preto é cor. Lá em Senegal usamos a lingua wolof, não tem esses termos. Falo inglês, francês e espanhol e nunca me referi a outro ‘irmão’ como preto.”
Ynaê Lopes , professora da Escola Superior de Ciências Sociais e História da FGV”Discutir que termo é mais adequado para se referir aos negro(a)s e/ou preto(a)s brasileiros é, por um lado, discutir o caráter estruturante do racismo na sociedade brasileira. Historicamente, os dois termos carregam as pechas da instituição escravista e das políticas racistas que marcaram a trajetória de exclusão dos afrodescendentes no Brasil, tendo sido utilizados como forma de menosprezar tais pessoas nas mais diferentes formas e situações. Dessa feita, a escolha mais adequada está vinculada às formas por meio das quais negro(a)s e preto(a)s do Brasil se identificam e se compreendem como indivíduos. É a voz negra e preta (na sua multiplicidade) que precisa ser respeitada.”
Maira Helen, atriz: “Além de distinguir as pessoas, o que se faz com esse tipo de informação? O mundo ideal é aquele onde não é necessária uma identificação
através da cor da pele. Na minha opinião isso segrega mais. Para mim, raça só existe uma: a humana. Você tem que enxergar o indivíduo e não a cor da sua pele. Como a época da escravidão na teoria já acabou faz tempo, também é chegada a hora de evoluirmos a ponto de não mais precisar colocar em pauta esse tipo de questão.”
Ivan Chagas, músico: “Seja preto ou negro, o que me incomoda é a forma como são proferidas essas palavras. Para mim, não se trata da origem da pessoa que fala e sim a forma, assim como é impossível alguém se referir a mim como ‘moreno’ e não sentir o teor do preconceito oculto, camuflando a abordagem falsa de quem tem medo de dizer negro ou preto…”
Gabriel Cezario, modelo: “O correto seria negro, mas não me ofende em ser chamado de preto. Meu pai diz que o correto para ele é preto. Ele também não se ofende… Diz que ele é preto. Os brancos não dizemos que eles são brancos? Então, porque eu não posso ser preto? Tenho orgulho da minha raça!”

Enfim, independente de ser negro ou preto, o mais importante e correto seria o reconhecimento e o respeito pelo semelhante e, não a segregação, a intolerância e a discriminação. Pois, para mim não existe raça branca, raça amarela ou raça negra, o que existe é a raça humana.

Mário Aparecido de Souza
Editor e jornalista

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