Para o Dia Internacional da Mulher comece desconstruindo micromachismos

Iniciamos o ano de 2019 com alta nas taxas de feminicídio no Brasil. Cerca de 126 mulheres foram mortas até o começo de fevereiro somente pela condição de serem mulheres. Os dados foram apresentados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Além disso, no mesmo estudo, outra situação alarmante foi demonstrada. Nesse mesmo período, cerca de 67 mulheres sofreram tentativa de homicídio, segundo constam registros em delegacias do país.

Esse fato demonstra como a realidade das mulheres brasileiras ainda é permeada pela insegurança, medo e violência. Comemorar o Dia Internacional da Mulher é importante para nos lembrarmos de cada uma das conquistas durante o passar dos anos; mas é ainda mais essencial para remetermos a luta pela plena igualdade e o direito de viver sem temer o existir.

Quando penso em uma sociedade realmente justa para as mulheres, certamente esbarro longe de algumas realidades que tenho visto. E não precisamos ir muito longe para vê-las. Ao ligarmos a televisão, nos deparamos praticamente todos os dias com alguma notícia de estupro e feminicídio. Ao enxergamos verdadeiramente o que está ao nosso redor, percebemos a desigualdade exposta a olhos vivos. Seja na paridade econômica, ocupação em espaços de poder, representatividade política, mercado de trabalho, oportunidades. A mulher tem a capacidade indagada somente pelo seu gênero e continua sendo, anos após ano, estigmatizada por uma cultura construída em ideais machistas.

É necessário barrar e desconstruir do imaginário da sociedade estereótipos sexistas que foram findados e aceitos. Em 2017, a Skol Diálogos em parceria com o IBOPE, revelou por meio de uma pesquisa que o machismo é o preconceito mais praticado no país. Ao todo, 61% dos entrevistados relataram que em algum momento da vida tiveram posturas machistas. Apesar disso, a naturalização dessas atitudes faz com que os atos não sejam percebidos como errados  por quem os pratica. E talvez essa seja umas das maiores dificuldades na hora de enfrentar e quebrar convicções que já estão há tanto tempo enraizadas na sociedade.

O machismo é o gatilho inicial para o Brasil ocupar o quinto lugar no ranking que mede os lugares mais violentos para uma mulher viver. Ele é, inclusive, o responsável pela 95º posição  do Brasil na lista elaborada pelo Fórum Econômico Mundial que aponta o nível da igualdade de gênero em 149 países. A situação mais crítica está na paridade de renda e participação no mercado de trabalho. Lamentável é perceber que ao invés de melhorarmos com o passar dos anos, estamos decaindo. Em 2017 estávamos 5 posições acima.

Essa constatação muito entristece. Apesar de termos investimentos em políticas públicas, aumentado o debate sobre o tema e dando destaque aos movimentos que lutam pelas mulheres, continuamos encarando obstáculos difíceis de serem derrubados. E aí nos questionamos o porquê.

A explicação talvez seja mais simples do que possamos pensar. Quando muitos de nós, homens, deparam-se com questões feministas e suas explicações, nos desinteressamos e acreditamos que aquilo não é de nosso real interesse. Enganamo-nos. Tudo que torna a sociedade mais igualitária é sim responsabilidade de todos. Apoiar a luta é fundamental e ter empatia, mais ainda. Não é sobre falar por elas – precisamos respeitar o local de fala -, mas ouvir, entender e reparar os micromachismo diários. Educarmos-nos para educar o próximo e assim por diante.

Portanto, que nesse Dia Internacional da Mulher entendamos que é necessário mais do que flores, bombons e mensagens bonitas. Que nos conscientizemos que a data é sinônimo de luta e resistência. O melhor presente que podemos dar a cada uma das mulheres é apoio, compreensão e desconstrução. Que acordemos hoje com a vontade de mudar e que no dia posterior, a luta recomece. Só assim poderemos ter a certeza que, de fato, estamos dando reais motivos para que elas comemorem essa data.

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Laércio Lopes é vice prefeito de Taboão da Serra e empresário

*foto: Natália Bassi

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